segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Riscos e vulnerabilidades das mudanças ambientais: Moçambique nesse dilema

O planeta terra encontra-se numa época em que várias mudanças relativas ao meio ambiente estão a ocorrer. Eventos como cheias, ciclones, secas, aumento e diminuição de temperatura tem vindo a criar alterações no meio natural e bem como no meio antrópico. A natureza vem mostrando ao ser humano que suas acções em relação ao meio em que ele esta envolvido estão erradas e necessitam de mudanças radicais e rápidas. Os indicadores, alarmantes, que surgem dos diversos estudos ambientais em todas as partes da Terra mostram que caminhamos para um lugar incerto, isto é, para um mundo de muitos riscos que vão impactar cada vez mais sobre os mais vulneráveis. O Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 ilustra muitos exemplos dessas transformações que têm vindo a acontecer e traça cenários alarmantes para o futuro caso não se mudem as acções actuais.

É importante perceber que os riscos constituem factos da vida externa para o mundo inteiro; cada um de nós que habita no planeta Terra está sujeito a riscos pois não detemos controlo sobre ele; o meio ambiente através dos seus inúmeros processos cria um conjunto de riscos específicos tais como secas, cheias, ciclones, entre outros que podem destruir a vida das pessoas conduzindo a perda de vidas humanas, de rendimentos, de bens e oportunidades. A vulnerabilidade mede a capacidade de cada um de nós em lidar com esses riscos e mostra como cada um dos grupos sociais deste planeta esta pronto a responder as alterações que ocorrem ou podem ocorrer em suas áreas de habitação e trabalho.

Num mundo tão desigual, onde cerca de 2.6 biliões de habitantes vivem com menos de 2 dólares por dia (cerca de 60Mtn/dia) os riscos vão cada vez mais contribuir para o fraco desenvolvimento humano atendendo que estas populações mais vulneráveis não têm capacidades financeiras, matérias, tecnológicas, entre outras para poder responder as mudanças ambientais que se estão a verificar e que afectam directamente em suas vidas. Pessoas com mais recursos e menos vulneráveis a riscos podem enfrentar o impacto das mudanças através das poupanças em bancos, seguros privados e venda de bens. Quem não tem essas capacidades vive muito vulnerável aos riscos.

As alterações do meio ambiente são, desde a década de 1960, foco de discussão em encontros internacionais (o mais recente é o de Copenhaga que busca a redução de emissão de poluentes, principalmente nos países industrializados e bem como a transferência de recursos para os países menos desenvolvidos para mitigação dos problemas ambientais); acordos e estratégias foram delineadas pelos diversos países com vista a mitigação das alterações ambientais decorrente da acção antrópica. Infelizmente, todo o esforço para que o ser humano contribuísse menos para criar as alterações tem vindo a ser pouco eficaz devido a um forte “vilão” chamado economia, ou por outra, dinheiro e riqueza que dá hegemonia e poder a quem detém mais. Essa economia só é conseguida a base de recursos naturais que se transformam em produtos e serviços para alimentar o grande mercado de consumo mundial que é apoiado pelas mais modernas técnicas de marketing (os diversos meios de comunicação, como a televisão e rádio, jogam um papel muito importante nesta acção.

A exploração de recursos naturais, sua transformação e produção, seu consumo e sua deposição após uso não tem vindo a atender aos princípios de sustentabilidade, contribuindo desse modo para a alteração do meio natural e do meio criado pelo homem. Áreas verdes tem vindo a desaparecer nos meios urbanos, florestas tem estado a dar lugar a áreas desérticas onde os solos acabam perdendo sua qualidade motivada pela agricultura intensiva, cidades crescem sem planeamento ocasionando habitação em áreas inóspitas. Estes exemplos não são de uma realidade específica, podem-se verificar em países pobres e ricos.

Moçambique é um dos países que não esta isento de culpa nas transformações do meio natural, pois sua população necessita de transformar os recursos naturais para viver. É importante entender que os recursos naturais existem para garantir a sobrevivência dos seres vivos; a água, os alimentos e o ar são alguns dos elementos indispensáveis a existência da vida.

Igualmente é imprescindível entender que estes elementos devem ser usados de modo a atender as necessidades futuras e ai entra o importante conceito de racionalidade e equidade no consumo e gestão desses recursos. Poucas pessoas possuem muito e muitas pessoas detém pouco. A pegada ecológica é bastante diferenciada.

A participação social é importante na criação e fiscalização dos programas de governo, em todos os níveis, e favorecem a equidade social, a preservação e conservação de recursos naturais e o desenvolvimento humano. Para que os moçambicanos participem para um melhor desenvolvimento da sua sociedade, precisa de estar educada e consciencializada de modo a compreender a vulnerabilidade e os riscos a que estão sujeitos.

Como Nelson Mandela abordou, a escravatura, o apartheid e a pobreza não são naturais mas sim frutos de acções humanas que podem ser eliminadas através de acções humanas. O objectivo deste texto é alertar a toda a sociedade moçambicana, isto é, todos seus intervenientes sobre a necessidade de perceber que vivemos em um mundo de riscos e a vulnerabilidade desta sociedade pode ser menor se a mesma for mais informada, vigilante e actuante na criação dos programas de governo a nível nacional e local (distritos, municípios, localidades, etc..

Uma sociedade “cega”, “surda”, “muda” e “inoperante” favorece as diferenças sociais e deste modo ocasiona maior vulnerabilidade aos riscos decorrentes das transformações do meio que nos rodeia.


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