segunda-feira, 23 de março de 2009

Aeródromo de Inhambane & Desenvolvimento Turístico

O município de Inhambane é um dos mais importantes pontos de “captação” de turistas, nacionais e internacionais, que o país possui. A sua diversidade de recursos, principalmente os naturais (praias, corais, paisagem, dentre outros) motiva a chegada de grandes massas de visitantes que almejam vivenciar momentos de lazer, descontração, aventura, dentre outros. Porém, para que o visitante vivencie esses momentos é necessário que diversos elementos/fatores existam para que se garanta uma fidelização da procura/demanda.

Um dos mais importantes elementos, senão o mais importante que garantem a sobrevivência e a qualidade de um destino turístico é a existência de infra-estrutura básica, que geralmente é de obrigação estatal/governamental a sua implantação e manutenção. A existência de vias de comunicação, do saneamento do meio, da educação, de água, de energia, dentre outros elementos que compõe a infra-estrutura básica, contribuem para que um destino se torne mais competitivo em relação a outros e consequentemente contribui para a prosperidade sócio-econômica e ambiental de todos intervenientes do sector turístico.

Numa época em que se aborda com muita intensidade sobre os ganhos que poderão advir do mundial 2010 no país vizinho, África do Sul, é importante olharmos para o que temos ou como estamos de modo a poder-se melhorar a atual situação; portanto não basta dizer-se que haverá ganhos; chamarem fotógrafos internacionais, divulgarem o país. É importante que se pense, primeiro, em identificar o nosso estado de situação em termos de capacidade de oferta de infra-estrutura e depois envidarmos esforços para o marketing internacional na busca de visitantes que poderão ajudar no crescimento da balança econômica do país em geral e de todos envolvidos no setor. Esta abordagem da necessidade de avaliarmos o nosso estado atual de oferta de infra-estrutura para que se possa obter ganhos do Mundial 2010 poderia se desenvolver por mais páginas, fugindo ao principal objetivo que levou a escrever este texto.

O que levou a escrever este texto é o estado actual do Aeródromo de Inhambane que é uma infra-estrutura básica e que serve de ponto de entrada e de saída de pessoas, aeronaves e carga oriundas dos diversos pontos do mundo. O objetivo, principal e único, deste texto é contribuir para melhoria da situação atual através de observações vivenciadas pelos autores das vezes que estiveram neste local.

Inhambane é o principal município e capital da província do mesmo nome. Apesar da sua importância administrativa e turística, o município, não possui um aeroporto conforme muita gente confunde quando fala, mas sim um aeródromo, que se apresenta ultrapassado ou “velho” para aquilo que é o padrão de qualidade exigido pelas demandas turísticas atuais. Segundo o Instituto da Aviação Civil de Moçambique através do Aeronautical Information Publication, o Aeródromo de Inhambane é secundário, do tipo C, tem uma área física de 88 hectares e dista a 2,5 Km da Cidade de Inhambane. Possui duas (2) pistas, uma principal e asfaltada, com dimensões de 1500*30 metros, e outra secundária e não asfaltada, com uma dimensão de 800*30 metros. As duas pistas cruzam-se formando uma perpendicular devido à predominância dos ventos. A Torre de Controle tem uma freqüência de 116,4 KHz, um (1) hangar com capacidade para três (3) aeronaves.

O aeródromo foi construído pela empresa Caminhos de Ferro de Moçambique (Empresa Pública) em 1948 e depois passou para a jurisdição da Aeronáutica Civil na década de 60. Em 1984 passou para a tutela dos Aeroportos de Moçambique E.P.. A pista secundária foi construída pelo Aeroclube de Inhambane. A sala de embarque que é a mesma que tem a função de sala de desembarque tem a capacidade para trinta (30) passageiros. A placa de estacionamento tem a capacidade para albergar doze (12) aeronaves, sendo que o seu acesso é feito mediante um pagamento de uma taxa de 8,00 USD para aeronaves ligeiras e 12,00 USD para aeronaves pesadas. O aeródromo está aberto ao tráfego das 7h às 17h de segunda à sábado. Assim, todas as aeronaves que voarem para este aeródromo aos domingos têm que pagar uma taxa de 125,00 USD a ADM E.P.. A aeronave crítica para o aeródromo é a de 49 toneladas de peso máximo à descolagem. Paga-se 8,00 USD por cada metro quadrado para o aluguer de escritórios neste aeródromo. Este aeródromo é de propriedade pública, visto que é administrado através de um organismo oficial responsável pelos aeroportos, a ADM E.P..

O Aeródromo de Inhambane não possui iluminação, o que faz com que o aeródromo não receba voos à noite, salvo em questões de emergência (como evacuação médica), e nesses casos são usadas lamparinas e luzes de automóveis para poderem prover iluminação à pista.

Escalpelizando a importância das infra-estruturas aeroportuárias para o desenvolvimento da actividade turística pode-se afirmar que um dos pontos fulcrais que se insere nos transportes aéreos são os aeroportos, sendo que, deste modo, Palhares (2002:165) refere que os aeroportos, como terminais de transporte, têm importante função em termos de atração e geração de turistas, porque quando um turista visita uma região, os terminais de transporte e por extensão, os aeroportos, são o cartão de visitas de uma cidade. Por isso, cada vez mais as cidades em todo mundo têm trabalhado em parceria com seus aeroportos, e em alguns casos chegam a ser administrados pela prefeitura (município). Em relação aos aeroportos de pequeno e médio porte, com influência regional como é o caso do de Inhambane, o autor refere que os mesmos podem também efectuar um trabalho de marketing com as agências de viagens locais no sentido de atrair os moradores dessas regiões a voarem a partir deles, ao invés de se deslocarem para os grandes aeroportos ou atrair o pax cujo destino final é a região próxima a este aeroporto, mas que poderia estar a optar por fazer o percurso entre o aeroporto principal (hub) e o seu destino final por outro modo de transporte que não o aéreo. Para tal, é preciso que o aeroporto tenha parcerias não só com a administração local, mas também com os próprios agentes de viagens da região.

Palhares (2001:161) acentua a importância dos aeroportos e do transporte aéreo para a geração do turismo, afirmando que o transporte aéreo participa com mais de 50% de todo turismo internacional do mundo inteiro, tendo alcançado em 1994 mais de 1.2 bilhão de viagens e em países como a Austrália, Japão e Nova Zelândia o transporte aéreo representa mais do que 99% das entradas de turistas internacionais e 58% no Caribe, América Central e América do Sul.

Espírito Santo Jr. (2003:25) citando Graham e Jarach (2001) refere que para o turista, o aeroporto é primeira e a última referência da cidade, região e o país está a visitar e, exactamente por isso, que os mesmos devem ser planejados, construídos e administrados como empresas prestadoras de serviços não apenas para as empresas aéreas (clientes primários), mas como também para todos os turistas, quer em viagens domésticas ou internacionais. Contudo, o mesmo autor salienta que em vários países, os aeroportos não funcionam nem actuam como empresas. Ao contrário, os aeroportos são vistos e tratados como meros “provedores de parte da infra-estrutura necessária ao transporte aéreo e há falta de parcerias estratégicas entre as empresas aéreas e os aeroportos e sinergia e integração estratégica entre os aeroportos, os agentes públicos e privados turismo e o poder público em si”.

Num outro desenvolvimento, o autor explica que sendo o aeroporto o principal portão de entrada de turistas estrangeiros, este deve promover, directamente, a cidade em que está localizado e, mais ainda, a região sócio-económica e turística que polariza. Desta forma, independentemente de haver ou não uma entidade promotora do turismo na localidade, na região ou no país, também cabe ao aeroporto, através da sua administração, promover a si próprio para o país onde está localizado e para o mundo. Esta promoção, pela lógica, deverá estar atrelada à localidade onde se situa, bem como à região que se encontra localizado e, por fim, ao país que o acolhe.

O Plano Director da Aviação Civil, elaborado em 1986, já reconhecia que a reabilitação desta infra-estrutura poderia criar impactos económicos significativos na Província no geral e especificamente ao município, e deste modo recomendava algumas acções que deviam ser levadas a cabo para o seu melhoramento, nomeadamente:

· Reabilitação da actual pista;

· Instalação de um sistema de iluminação; e

· Renovação e/ou melhoramento da terminal e de outros edifícios, e atribuição de um veículo de bombeiros (neste caso em bom estado).

Decorridos 23 anos, não se verificam tais recomendações, facto que mostra que ainda há pouca percepção de quem de direito sobre a importância estratégica que este aeródromo desempenha para a sociedade em geral e para o desenvolvimento da actividade turística especificamente.

Num outro desenvolvimento e tal como reza a actual conjuntura do transporte aéreo em África, o tráfego internacional é regido por Acordos Bilaterais. O CMCI actualmente só está vinculado ao Acordo de Transporte Aéreo entre Moçambique e a República da África do Sul, isto é, o município apenas recebe vôos directos internacionais provenientes da África do Sul, e o mesmo só está aberto às operadoras ilegíveis no Acordo de Transporte Aéreo entre os dois países. Assim, há cinco (5) rotas acordadas no âmbito dos Acordos sobre Serviços Aéreos entre os dois países que ligam o município à África do Sul, nomeadamente:

  • Inhambane – Joanesburgo, com capacidade semanal de 130 lugares;
  • Inhambane – Durban, com capacidade semanal de 130 lugares;
  • Inhambane – Lanséria, com capacidade semanal de 130 lugares;
  • Inhambane – KMIA, com capacidade semanal de 130 lugares; e
  • Inhambane – Cape Town, com capacidade semanal de 200 lugares.

Assim, propomos, diante da situação actual, que os todos envolvidos (Aeroportos de Moçambique, Conselho Municipal da Cidade de Inhambane, Serviços Províncias de Migração, empresas aéreas, comunidade civil, unidades de ensino, dentre outras organizações estatais e privadas) se encontrem para analisar a actual situação e traçar estratégias para que este destino possa “enviar” e “receber” seus visitantes e residentes locais com melhor comodidade/qualidade. Fala-se em ampliação, remodelação, etc., etc.; do aeródromo, porém as datas não são publicadas e nem se vêem avanços em relação a tal.

Diante do que foi observado, seria pertinente que:

1. Se melhorasse a situação atual de iluminação, asfalto das pistas e bem como segurança na mesma, de modo a permitir que mais vôos possam chegar e sair de Inhambane de noite e bem como proporcionar maior seguranças nos pousos.

2. Se olhasse para a questão da sala de embarque e desembarque, pois, atualmente o espaço existente é o mesmo e em períodos de grande demanda a mesma torna-se pequena verificando-se muita confusão. Igualmente é necessária a instalação de aparelhos de ar-condicionado tendo em conta as elevadas temperaturas que se verificam neste município e a sobrelotação da sala. Salientar que esta sala, de acordo com o que se constatou, é igualmente local de desembarque de bagagens de estrangeiros para o controle alfandegário.

2. Se melhorasse o manuseamento de bagagens, visto que, o actual é arcaico, isto é, o mesmo é realizado manualmente e pode fazer com que as bagagens não cheguem em bom estado, visto que, de acordo com normas da aviação aérea alguns tipos de produtos, como garrafas contendo líquido, dentre outros não devem seguir a bordo mas sim no porão, daí a necessidade de um manuseamento mais cuidadoso, que é diferente do que verificado neste aeródromo, onde os trabalhadores chegam a lançar e arrastar as bagagens sem o mínimo de cuidado.

3. A questão de informação é deficitária, pois não se encontram painéis de informação do horário de chegadas e saídas de vôos e bem como a previsão do tempo de vôo e suas escalas. Este detalhe ajuda o viajante a planear melhor a sua viagem e bem como a direcioná-los.

4. Sendo aeródromo internacional, a segurança e os serviços de migração estão aquém da satisfação. Um e único funcionário é responsável por receber cerca de 25 turistas/estrangeiros, originado a demora no seu desembarque. As bagagens no geral, na saída e chegada não são confiscadas pelas autoridades conforme as normas internacionais recomendam, facto que em plena época do terrorismo e do tráfico de drogas e órgãos pode-se estar a criar facilidades/aberturas para ocorrências de tal praticas.

Assim, acreditando que estes cinco pontos que aqui são expostos contribuam para uma maior reflexão de quem de direito e conseqüentemente para uma melhoria do que se verifica actualmente; esperamos ter dado o nosso contributo como profissionais e residentes para o sucesso do destino Inhambane e bem como para o destino Moçambique.

Helsio Azevedo & Francisco Cabo (Assistentes Estagiários - UEM/ESHTI)

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