sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Discurso da guerra e o futuro do turismo no país

SR. DIRECTOR! Antes de mais, devo agradecer a sua boa vontade em mandar publicar esta pequena contribuição, primeiro, pela necessidade de se despertar os políticos nacionais o interesse pela paz e segurança, e, em seguida, para deixar um apelo aos intervenientes do sector do turismo no sentido de buscarem maior envolvimento nas questões políticas actuais, para não verem prejudicados todo o trabalho e objectivos, individuais e colectivos, alcançados. Maputo, Sexta-Feira, 9 de Novembro de 2012:: Notícias Moçambique é um país marcado por momentos em que conflitos armados contribuíram para a actual situação - negativa - socioeconómica. A luta pela independência nacional e a guerra dos 16 anos marcaram a nossa história e possuem parte das responsabilidades no actual cenário de desenvolvimento. O atraso deste país nos diversos sectores é visível, pois somente depois de 1992, com o Acordo Geral de Paz (AGP), buscaram-se as bases reais para o desenvolvimento nacional. Vinte anos depois do AGP, continuam a existir dificuldades de sobrevivência reais. Compactuo com a ideia de que o desenvolvimento de um país não ocorre de um dia para o outro mas não acredito que neste período problemas básicos (transporte, educação, saúde, segurança, etc.) ainda continuam sem previsão de solução por parte de quem governa e sempre esteve a governar. Os conflitos armados citados criaram pobreza, destruíram infra-estruturas importantes, aceleraram o crescimento urbano desregulado, ceifaram vidas, entre outros tantos impactos negativos. De forma contrária e pelo lado positivo nos tornamos um país soberano, democrático e abrimos as portas do desenvolvimento (restrito a poucos) para o mundo. Discursar sobre origens, resultados desses eventos não é prioridade deste texto; deixarei esse discurso para os meus colegas historiadores, cientistas políticos, economistas, entre outros que possuem mais aporte para tal. Procuro aqui sensibilizar os políticos nacionais que, com o actual momento de tensão política a que assistimos, o sector do turismo irá ressentir-se negativamente. Depois de vários anos na senda da recuperação da imagem do país e de mecanismos que possibilitem a integração do nosso país nas rotas turísticas nacionais, volta-se ao discurso da guerra. Este discurso é negativo para o turismo, cria insegurança e “repele” visitas de turistas e investimentos e pode, se efectivado, destruir um dos importantes sectores que o país possui para contornar o subdesenvolvimento nacional. Nos últimos 10 anos em Moçambique, o sector do turismo regista crescimento em termos de chegadas de visitantes internacionais e de maior mobilidade de turistas domésticos; igualmente o número de empregos e de investimentos cresceu. Maputo, Sábado, 10 de Novembro de 2012:: Notícias O turismo é uma actividade que não cresce e nem produz resultados esperados quando existe um clima de tensão no local em que se vai visitar. Este é um fato real e a história de Moçambique comprova isso. Já na época colonial o interesse pelos recursos turísticos nacionais fez chegar turistas e investimentos de diversos países e contribuiu, igualmente, para a criação de parques e reservas nacionais que hoje ainda existem. O advento da guerra “estancou” esse crescimento e dizimou recursos; o Parque Nacional de Gorongosa é um exemplo clarividente dessa triste realidade. Este parque foi afectado pela guerra e muitos recursos turísticos se perderam. Actualmente em fase de reestruturação e projecção internacional, todo o investimento que se tem estado a realizar para que este parque se desenvolva poderá se perder e com isso acrescer mais pobreza e dificuldades dos moçambicanos que se beneficiam com o desenvolvimento deste país. Igual a este parque outros tantos investimentos neste sector podem ser encerrados e/ou prejudicados. O sector do turismo é sensível e vive de imagens positivas das paisagens que se visitam/existem. A diversidade sócio-cultural nacional e a natureza geográfica tornam este país rico em recursos turísticos que possibilitam e criam motivações nos mais diversos tipos de turistas que o visitaram e almejam visitar. Praias, gastronomia, parques, edifícios históricos, etc. compõe o vasto leque de recursos turísticos existentes. Não se pode ignorar o discurso da guerra e pensar-se que existem capacidades de resposta a qualquer tipo de insurgência armada, pois a mínima que seja irá manchar a imagem da nossa nação e, consequentemente, perderemos anos de trabalhos de projecção da imagem do país acolhedor e hospitaleiro com muitas riquezas naturais e culturais para se visitar/explorar. Relatos deste discurso começam a surgir na mídia internacional e especificamente a sul-africana, que é de onde chegam grande parte de visitantes estrangeiros. A propagação desse ambiente de insegurança que vivemos, por meio dos canais de comunicação nacionais e internacionais, influenciará na escolha deste destino e, consequentemente, perderemos o espaço regional e internacional que estávamos a conquistar neste sector. Prezados políticos, senhores membros de governo e demais actores no processo de desenvolvimento nacional e especificamente do turismo, o discurso da guerra deve ser acautelado por um momento de reflexão sobre o que queremos que este país seja e linhas de acção claras sobre quando e como se vai chegar. O governo deve repensar as suas acções, envolver outros actores e, acima de tudo, deve saber ouvir de quem está na verdadeira frente de batalha da vida quotidiana sobre suas limitações que não são poucas. A manutenção da paz e segurança são condições indispensáveis para qualquer projecto de desenvolvimento que existe para este país, e até mesmo para o tão propalado desenvolvimento baseado em recursos minerais de que tanto se fala. Devemos ser cautelosos no discurso da guerra e na sua efectivação sob o risco de nada nos tornarmos nos próximos 20 anos e todos sairmos a perder com esse perverso evento.

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